Segundo prefeitura, o uso não foi autorizado pelos órgão competentes. Já a direção da empresa se defende e diz, em nota, que tem autorização.
Em Anhembi (SP), o motorista que usa a vicinal que liga a cidade ao distrito de Piramboia se depara, no meio do caminho, com uma pista de pouso e de decolagem particular. O trânsito foi desviado para que um pequeno avião utilize a pista de terra. Mas segundo os motoristas que passam pela via, o local é mal sinalizado e coloca em risco quem trafega na área.
A pista é usada pelos pilotos de um avião agrícola, utilizado para pulverizar ou adubar plantações, que presta serviços a uma empresa produtora de painéis de madeira industrializada. Para decolar e pousar com produtos usados na plantação de eucalipto, a empresa construiu a pista, utilizando parte de uma estrada vicinal.
“Aqui ninguém passa, porque está fechada. Mas, até o final de semana acaba a adubação e a pista vai ser liberada”, afirma um piloto, que não quis se identificar. O trabalho de adubação deve durar algumas semanas. Enquanto isso, os motoristas que passam pela vicinal precisam usar outra estrada de terra, bem mais estreita, que fica ao lado da plantação.
A vicinal João Clemente de Almeida tem 9 km e é a principal ligação entre a cidade de Anhembi e o distrito de Piramboia, onde moram aproximadamente 1300 pessoas. Quem precisa passar pela via, não gostou do desvio improvisado. “Tem que ser melhor sinalizado, ter mais segurança, eu passei e estava tempo de chuva e fiquei com muito medo”, afirma a dona de casa Vitória Oliveira.
“É muito estranho, passa carro toda a hora aqui e não tem segurança nenhuma, além da falta de sinalização”, completa o motociclista Ricardo de Oliveira. A reclamação dos moradores chegou ao vereador Rodrigo Elias Pinto (PSDB), que fez um requerimento cobrando explicações da prefeitura e do Departamento de Estradas e Rodagens (DER), que esta executando uma obra de asfaltamento da via.
“Mesmo que seja temporário, provisório, pedi explicações se existe autorização da Anac, se órgão municipais competentes estão acompanhando e fiscalizando a obra na pista. E outra questão que me chamou atenção é a segurança da população que usa esse acesso. O que a gente pode constatar é que não existe sinalização e nenhuma menção dessa sinalização. Isso também causa preocupação”, ressalta.
Segundo o diretor de Obras de Anhembi, José Carlos da Silveira, a prefeitura não autorizou a empresa a usar parte da vicinal como pista de pouso. “Eles não pediram autorização, eles entraram em contato com a prefeitura para saber que estava executando as obras de pavimentação da via. Esse foi o único contato feito. Não sabemos quem autorizou o uso da via, mas, não foi a prefeitura”, afirma.
Sem gravar entrevista, o piloto do avião disse que a autorização teria partido de um engenheiro do DER. “Os caminhões pararam o serviço que estavam fazendo aqui para usarmos a pista. Eles esperaram o uso para voltar ao serviço que estavam fazendo”, conta. A reportagem da TV Tem ligou para o engenheiro Carlos Correa, responsável pela obra de asfaltamento da vicinal. Ele negou que tenha autorizado a abertura da pista de pouso. Como mostra a descrição da gravação telefônica:
Repórter: Não houve autorização do DER? O senhor não autorizou lá?
Engenheiro: Não, não, porque não tem nada a ver com o DER aquilo lá.Repórter: Não tem a nada a ver com DER, então?
Engenheiro: Não, de jeito nenhum. Tão logo eles terminem o serviço a pista vai ser desativada, num vai ficar eternamente lá.
Repórter: Então, eles se comprometeram com o senhor de desmanchar?
Engenheiro: Lógico, se eles não desmancham, eu desmancho.
Engenheiro: Não, não, porque não tem nada a ver com o DER aquilo lá.Repórter: Não tem a nada a ver com DER, então?
Engenheiro: Não, de jeito nenhum. Tão logo eles terminem o serviço a pista vai ser desativada, num vai ficar eternamente lá.
Repórter: Então, eles se comprometeram com o senhor de desmanchar?
Engenheiro: Lógico, se eles não desmancham, eu desmancho.
Em nota, a assessoria de imprensa da empresa que contratou o serviço aéreo de pulverização informou que tem autorização da prefeitura de Anhembi e da secretaria de Transportes do município para utilizar parte da estrada como pista de pouso e decolagem. E que a pulverização deverá terminar ainda esta semana. Sobre essa afirmação, o diretor de Obras afirma que a empresa protocolou um ofício na prefeitura no dia 1º de novembro pedindo autorização de uso da estrada entre os dias 22 de outubro e 10 de novembro. E que o Departamento Jurídico ainda está analisando o pedido.